segunda-feira, 28 de maio de 2018

50 - Teófilo de Antioquia (†181) Segundo Livro a Autólico (Capítulo 5 a 7)


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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Segundo Livro a Autólico (Capítulo 5 a 7)

Capítulo V – As contradições dos escritores profanos (cont.)
Assim, a opinião dos filósofos e escritores é contraditória. Tendo esses feito tais afirmações, o poeta Homero vai por outro caminho para cantar-nos a origem não só do mundo, mas também dos deuses. Ele diz em algum lugar: “Ao Oceano, origem dos deuses, e à mãe Tétis, donde se originam os rios e todo ornar.” Na verdade, assim falando, ele não nos apresenta nenhum Deus, pois quem não sabe que o oceano é água? Ora, se é água, conclui-se que não é Deus. E se Deus é o criador do universo, como de fato o é, também é criador da água e dos mares.
Quanto a Hesíodo, ele não só explicou a origem dos deuses, mas também do próprio mundo. Ele disse que o mundo foi criado, mas não teve coragem de dizer por quem. Além disso, disse que são deuses, Cronos e seu filho Zeus, Posêidon e Plutão, e vemos que estes foram posteriores ao mundo. Conta-nos também como Cronos foi combatido pelo seu próprio filho Zeus, pois diz o seguinte: “Vencendo seu pai Cronos por sua própria força; de- pois, devidamente imortal, ordenou tudo e delimitou as honras”.
Depois continua falando das filhas de Zeus, às quais chama de Musas e diante das quais se apresenta como suplicante, querendo saber delas de que modo tiveram princípio todas as coisas. Ele diz: “Salve, filhas de Zeus, dai-me o amável canto. Celebrai a linhagem dos afortuna-dos imortais, os que existem para sempre, que nasceram da terra, do céu estrelado, da noite tenebrosa e os que foram criados pelo mar salgado. Dizei-me como primeiro nasceram os deuses, a terra, os rios e o mar infinito, que ferve de ondas, os astros brilhantes, o céu estendido lá em cima, como repartiram a opulência e distribuiram honras, e também como chegaram a possuir o Olimpo de mil recantos. Dizei-me isso, Musas, que tendes as moradas olímpicas desde o princípio, e dizei o que existiu primeiro.” Todavia, como as Musas poderiam saber isso se são posteriores ao mundo? Como poderiam contar isso a Hesíodo, se o pai delas ainda não havia nascido?

Capítulo VI – As contradições dos escritores profanos (cont.)
De certo modo, ele supõe a matéria e a criação do mundo, quando diz: “Primeiro existiu o Caos e depois a terra de largo seio, assento firme para sempre de todos os imortais, que ocupam os cumes do Olimpo nevado e o tenebroso Tártaro, seio da terra de largos caminhos; e foi Eros, o mais belo dos deuses imortais, que afrouxa os membros e vindo ao coração de todo ser, homem ou deus, domina a razão e o discreto conselho. O Erebo e a Noite negra nasceram do Caos: a Terra gerou primeiro aquilo que é semelhante a si, o Céu estrelado, para que ele lhe servisse como cobertura, e fosse para sempre assento firme para os afortunados deuses. Gerou as altas montanhas, graciosas moradas de deusas e das ninfas que habitam pelos montes escarpados. Pariu também o Mar infecundo, que ferve de ondas, o alto Mar, sem paixão amorosa; mas depois, em relação com o Céu, pariu o Oceano de profundos turbilhões”.
Dizendo tudo isso, nem mesmo assim declarou por quem foram feitas as coisas. Com efeito, se antes existia o caos e preexistia certa matéria incriada, quem foi que estabeleceu esta e depois a ordenou e transformou? Teria sido, por acaso, a matéria, que se transformou e ordenou a si mesma? De fato, Zeus aparece muito depois, não só da matéria, mas do mundo e da multidão de homens, e o próprio Crono, seu pai. Ou não foi antes algo principal que a criou, isto é, Deus que a pôs em ordem?
Além disso, vê que Hesíodo diz apenas bobagens e contradiz a si próprio de mil maneiras. Com efeito, tendo falado da terra, do céu e do mar, quer que deles nasçam os deuses e destes nos anuncia alguns homens extraordinários, parentes dos deuses, a raça dos titãs, dos ciclopes, a multidão dos gigantes e dos demônios egípcios, ou homens vãos, mencionados por Apolônides, de sobrenome Horápio, no livro intitulado Semenuthi e noutras histórias suas sobre a religião e seus reis.

Capítulo VII – As contradições dos escritores profanos (cont.)
Que necessidade tenho de falar dos mitos gregos e de sua futilidade? Plutão, rei das trevas; Posêidon que se coloca sob o mar e se abraça com Melanipa, gerando um filho que devora os homens! E o que dizer das tragédias que os vossos escritores compuseram sobre os filhos de Zeus? Como nasceram homens e não deuses, eles nos podem traçar sua genealogia. Ai está o cômico Aristófanes que na sua peça Os pássaros, pondo-se a contar a criação do mundo, disse que no princípio nasceu um ovo como composição única do mundo: “Antes de tudo, a de negras asas pariu um ovo”. E Sátira, historiador das famílias alexandrinas, começando por Filopátor, chamado também Ptolomeu, afirma que este se originou de Dioniso, e daí Ptolomeu deu o primeiro lugar à tribo dionisíaca. Sátira, portanto, diz o seguinte: De Dioniso e Altéia, filha de Téstio, nasceu Dejanira; desta e Héracles, filho de Zeus, nasceu Hilo; deste nasceu Cleodemo; deste nasceu Aristômaco; deste nasceu Têmeno; deste nasceu Criso; deste nasceu Marão; deste ansceu Téstio; deste nasceu Acoos; deste nasceu Cena; deste nasceu Tirimas; deste nasceu Perdicas; deste nasceu Filipe; deste nasceu Aéropo; deste nasceu Alceta; deste nasceu Amintas; deste nasceu Bocro; deste nasceu Meleagro; deste nasceu Arsinoe; desta e de Lagos nasceu Ptolomeu Soter; deste e de Berenice nasceu Ptolomeu Filadelfo; deste e de Arsinoe nasceu Ptolomeu Evergetes; deste e de Berenice, filha de Magas, rei de Cirine, nasceu Ptolomeu Filopátor. Esse é, portanto, o parentesco entre Dioniso e os reis de Alexandria. Daí também a tribo dionisíaca toma a sua divisão em famílias: a Altaida, de Altéia, que foi mulher de Dioniso e filha de Téstio; a Dejanírida, da filha de Dioniso e Altéia, mulher de Héracles, de onde recebem também seus nomes as famílias que deles descendem; a Ariádnida, da filha de Minos, mulher de Dioniso, filha enamorada de seu pai, que se uniu com Dioniso, este sob a forma de marinheiro; a Téstida, de Téstio, o pai de Altéia; a Toântida, de Toante, filho de Dioniso; a Estafília, de Estáfilo, filho de Dioniso; a Evênida, de Eunoo, filho de Dioniso; a Marônida, de Marão, filho de Ariadne e Dioniso. Todos esses foram filhos de Dioniso. Existem ainda muitas outras denominações que se conservam até o presente: os Heráclidas, de Héracles; os Apolônidas, de ApoIo; os Poseidônidas, de Posêidon; os Diones e Diógenes, de Zeus.

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terça-feira, 22 de maio de 2018

49 - Teófilo de Antioquia (†181) Segundo Livro a Autólico (Capítulo 1 a 4)


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49
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Segundo Livro a Autólico (Capítulo 1 a 4)


Conforme explicamos anteriormente, Teófilo de Antioquia (?-186), Teólogo, escritor cristão, apologista e Padre da Igreja escreveu  três cartas em defesa aos cristãos que continuavam a ser perseguidos no Império Romano. Elas foram endereçadas a um sujeito chamado Autólico, uma espécie de pseudônimo que encarna e personaliza um tipo de pessoa pagã que não devia ser rara nos finais do século II: pessoa culta, conhecedora de outras pessoas igualmente cultas e até de alguns cristãos a quem repudiava por achar as suas doutrinas demasiado simplistas. Nesta obra Teófilo continua a escrever sempre com enorme elegância e clareza de linguagem, as críticas feitas ao cristianismo e convida o seu leitor a ousar aprofundar os seus conhecimentos acerca da fé cristã, defendendo, ainda, de modo acérrimo a moral exemplar dos cristãos. 

Capítulo I – Introdução
Excelente Autólico, há dias tivemos uma conversa, na qual tu me perguntaste qual era o meu Deus. Expus brevemente minha religião e tu prestaste atenção ao meu discurso. Despedindo-nos, fomos para casa na melhor amizade, embora no começo me tenhas tratado com dureza. Sabes e lembras que consideravas loucura o nosso discurso. Depois disso tu me convidas… Mesmo sendo novato na arte de falar, quero também agora, através deste escrito, demonstrar-te de modo mais completo a inutilidade do teu afã e a inanidade da religião que te retém; esclarecerei a verdade através de algumas histórias do teu próprio grupo, as quais lês, mas que talvez ainda não tenhas entendido.

Capítulo II – Os ilogismos do paganismo: Idolatria
Com efeito, parece-me ridículo que cortadores de pedra, oleiros, pintores e fundidores modelem, pintem, esculpam, fundam e fabriquem deuses, os quais, enquanto estão nas mãos dos artífices, não são de maneira alguma apreciados; contudo, quando alguém os compra e os expõe no que chamam de templo ou em alguma casa, então são adorados não somente por aqueles que os compraram, mas aqueles mesmos que os fabricaram e venderam acorrem com grande fervor, com aparato de sacrifícios e libações para adorá-los, considerando-os deuses, sem levar em conta que continuam sendo as mesmas coisas por eles fabricadas: pedra, bronze, madeira, cor ou qualquer outro material. Algo parecido acontece convosco ao ler as histórias e genealogias dos chamados deuses. Enquanto ledes seus nascimentos, os considerais como homens; mas depois lhes dais nomes de deuses e lhes prestais culto, sem perceber nem compreender que tais como lestes que nasceram, tais de fato existiam.

Capítulo III – Os ilogismos do paganismo: Antropomorfismo
Ao menos os deuses antigos, se é certo que nasceram, podia-se ver que tinham uma longa descendência. Agora, porém, como se pode mostrar a descendência dos deuses? Com efeito, se antes geravam e nasciam, é evidente que agora também teriam que nascer deuses gerados. Do contrário, ter-se-á que considerá-los bem fracos, seja porque se tornaram velhos e por isso não geram, seja porque morreram e não permanece nenhum rastro deles. De fato, se os deuses antes geravam, teriam que gerar também agora, como vemos que os homens geram. Além disso, os deuses teriam que ser mais numerosos do que os homens, como diz a Sibila: “Se os deuses geram e continuam imortais, os deuses nascidos seriam em maior número que os homens, e já não haveria lugar para os mortais ficarem”.
Com efeito, se os filhos gerados pelos homens, que são mortais e de vida curta, existem até o presente e não cessam de nascer outros homens, e por isso as cidades e aldeias se multiplicam e até os campos são habitados, quanto mais os deuses que, segundo os poetas, não morrem, não deveriam gerar e nascer, de acordo com o que dizeis a respeito do nascimento ou geração dos deuses?
Ainda mais: Como é que o monte chamado Olimpo era antes habitado por deuses e agora se encontra deserto? Por que antes Zeus morava no monte Ida, e se sabia que ele morava ali através de Homero e outros poetas, e agora não se sabe onde anda? Como é que não estava em toda parte, mas se encontrava em um ponto determinado da terra? Ou ele não se interessava pelo resto, ou não era capaz de estar em toda parte e prover tudo. Se ele estava, por exemplo, no Oriente, não estava no Ocidente. No entanto, é próprio do Deus altíssimo e onipotente e verdadeiro Deus não só estar em toda parte, mas também ver e ouvir tudo e não ser contido por nenhum lugar. Do contrário, o lugar que o contivesse seria maior do que ele, pois o continente é sempre maior do que o contido. De fato, Deus não é contido, mas é o lugar de todas as coisas. Por que Zeus abandonou o Ida? Morreu ou não gostava mais desse monte? Então para onde foi? Para os céus? De jeito nenhum. Dir-me-ás que foi para Creta? Sim, ali se mostra até hoje o seu sepulcro. Também podes dizer que partiu para Pisa, onde até hoje é enaltecido pelas mãos de Fídias. Passemos, porém, aos escritos dos filósofos e poetas.

Capítulo IV – As contradições dos escritores profanos
Alguns do Pórtico, ou estóicos, chegam a negar totalmente que Deus existe ou, se existe, afirmam que Deus não se preocupa com ninguém, mas consigo mesmo. E nisso se manifesta totalmente a insensatez de Epicuro e Crisipo. Outros dizem que todo o universo se rege pelo acaso, que o mundo é incriado e a natureza é eterna, e até se atreveram a dizer que não existe absolutamente providência de Deus, mas que o único Deus é a consciência de cada dia. Outros estabelecem como dogma que Deus é o espírito que penetra tudo. Quanto a Platão e sua escola, certamente confessam que Deus é incriado e Pai e Criador do universo; em seguida, porém, supõem que a matéria é incriada como Deus e que ela tem a mesma idade de Deus. Mas se, conforme os platônicos, Deus é incriado e a matéria também o é, o Criador de todas as coisas já não é Deus, nem, seguindo-os, se percebe a monarquia ou unicidade de Deus. Além disso, como Deus é imutável por ser incriado, se também a matéria fosse incriada seria pelo mesmo motivo imutável e parelha de Deus. Com efeito, o criado é variável e mutável; o incriado é invariável e imutável. E o que de maravilhoso haveria se Deus tivesse feito o mundo de matéria preexistente? Também um artífice humano, tomando uma matéria qualquer, faz dela o que quer. Mas o poder de Deus se manifesta em fazer o que quer do que não existe, de modo que ninguém, a não ser Deus, pode dar alma e movimento. Um homem fabrica uma estátua, mas não pode infundir razão, alento ou sentido ao que foi feito por ele. Deus, porém, tem sobre o homem a vantagem de fazer um ser racional, com alento e sentido. Sendo Deus mais poderoso que o homem nessas coisas, assim também o é em fazer do nada e ser criador de tudo o que existe, quando ele quiser e como quiser.

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segunda-feira, 14 de maio de 2018

48 - Teófilo de Antioquia (†181) Primeiro Livro a Autólico (Capítulo 11 ao 14).


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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Primeiro Livro a Autólico (Capítulo 11 ao 14)



Capítulo XI – Atitude para com o imperador
Por isso, eu honraria melhor ao imperador, embora não o adorasse, mas rogasse por ele. Adorar, eu adoro apenas ao Deus real e verdadeiramente Deus, pois sei que o imperador foi criado por ele. Então me perguntarás: “Por que não adoras o imperador?” Porque não foi constituído para ser adorado, mas para que se lhe tribute a legítima honra. Com efeito, ele não é Deus, mas homem estabelecido por Deus, não para ser adorado, mas para julgar com justiça. De certo modo, Deus lhe confiou uma administração e assim como ele próprio não quer que se chame de imperadores os que ele estabeleceu sob o seu poder, pois o nome “imperador” é particular seu, e a ninguém é permitido chamar-se dessa forma, da mesma forma a ninguém é lícito adorar senão a Deus. Portanto, ó homem, estás completamente equivocado em tudo. Honra ao imperador por tua adesão a ele, submetendo-te a ele, orando por ele. Fazendo isso, realizarás a vontade de Deus. A lei divina diz: “Meu filho, honra a Deus e ao rei, e não sejas desobediente a nenhum dos dois, pois eles se vingarão repentinamente de seus inimigos”.

Capítulo XII – O nome de cristão
Quanto ao fato de zombares de mim, chamando-me cristão, não sabes o que dizes. Primeiramente, o ungido é agradável e útil, e não tem nada de ridículo. Com efeito, qual navio pode ser útil e salvo se antes não for ungido? Que torre ou casa possui bela forma ou é útil se antes não for ungida? Qual homem, entrando no mundo ou indo ao combate, não se unge com azeite? Qual obra ou ornato pode ter bela aparência, se não é ungida e não se torna brilhante? Por fim, todo o ar e toda a terra sob o céu são de certo modo ungidos pela luz e pelo vento. E tu não queres ser ungido com o óleo de Deus? Nós nos chamamos cristãos porque nos ungimos com o óleo de Deus.

Capítulo XIII – Imagens da ressurreição na natureza
Retornemos à tua negação da ressurreição dos mortos. Tu dizes: “Mostra-me apenas um morto que tenha ressuscitado e eu acreditarei.” Em primeiro lugar, o que há de maravilhoso em creres naquilo que viste acontecer? Por outro lado, crês que Héracles, depois de queimar-se vivo, ainda vive, e que Asclépio, que foi fulminado, ressuscitou. E não crês no que Deus te diz? Talvez, se te mostrasse um morto ressuscitado e vivo, não acreditarias. Ora, Deus te mostra muitos indícios, para que creias nele. Se queres, considera a morte das estações, dos dias e das noites, como morrem e ressuscitam. Vê. Não há também uma ressurreição para as sementes e frutos, e isso para a utilidade dos homens? Assim, por exemplo, um grão de trigo ou de qualquer outra planta, uma vez jogado na terra, primeiro morre e se desfaz, depois ressuscita e se transforma em espiga. Do mesmo modo, segundo a ordenação de Deus, a natureza das árvores e plantas não produz, conforme os tempos, os seus frutos a partir do oculto e invisível? Ainda mais: às vezes um pardal ou outro pássaro qualquer engole a semente de uma pereira, de uma figueira ou de outra árvore, depois voa para um monte pedregoso ou sobre um túmulo, aí defeca e a semente que fora antes tragada e que passara por tão grande calor, retorna e se transforma em uma árvore.
A sabedoria de Deus realiza tudo isso para demonstrar, mesmo por esses exemplos, que ele é Deus poderoso para realizar a universal ressurreição de todos os homens. Se queres contemplar um espetáculo mais maravilhoso, que acontece para demonstrar não a ressurreição de coisas terrenas, mas das celestes, considera a ressurreição da lua, que acontece a cada mês, como ela se consome, morre e ressuscita novamente. Escuta ainda: a obra da ressurreição se realiza em ti mesmo, embora tu, ó homem, a desconheças. Provavelmente alguma vez, ficando doente, perdeste tuas carnes, tuas forças e aparência; ao recobrar a saúde, por misericórdia de Deus, recuperaste novamente teu corpo, tua força e tua aparência. E como não sabes para onde foram tuas carnes ao desvanecer-se, também não sabes como se formaram e de onde vieram. Tu dirás: “Dos alimentos e dos líquidos transformados em sangue”. Muito bem! Isso, porém, também é obra de Deus, que assim dispôs, obra dele e de nenhum outro.

Capítulo XIV – Exemplo pessoal de Teófilo
Portanto, não sejas incrédulo, mas acredita. Eu também não acreditava que isso existisse, mas agora, depois de refletir muito, eu creio; ao mesmo tempo, li as Sagradas Escrituras dos santos profetas, os quais, inspirados pelo Espírtio de Deus, predisseram o passado como aconteceu, o presente tal como acontece e o futuro tal como se cumprirá. Por isso, tendo a prova das coisas acontecidas depois de terem sido preditas não sou incrédulo, mas creio e obedeço a Deus. Eu te peço: submete-te também a ele, para que, não crendo agora, forçosamente tenhas que crer mais tarde em tormentos eternos. Exortação final Esses tormentos foram preditos pelos profetas, e os poetas e filósofos, posteriores a eles, os imitaram a partir das Sagradas Escrituras, para dar autoridade aos seus ensinamentos. Desse modo, eles também falaram antecipadamente dos castigos que recairão sobre os ímpios e incrédulos, para que ficassem testemunhados para todos e ninguém pudesse dizer: “Não ouvimos falar disso, nem sabemos”. Se queres, lê tu também com interesse as Escrituras dos profetas e elas te guiarão com mais clareza para escapares dos castigos eternos e alcançares os bens eternos de Deus. De fato, ele, que nos deu a boca para falar, que formou o ouvido para ouvir e fez os olhos para ver, examinará tudo e julgará com justiça, dando a cada um segundo os próprios méritos. Para aqueles que, segundo suas forças, buscam a incorruptibilidade através das boas obras, ele dará a vida eterna, a alegria, a paz, o descanso e uma multidão de bens, que nenhum olho viu, nenhum ouvido e nenhum coração humano sentiu; mas aos incrédulos, aos zombadores e aos que desobedecem à verdade e seguem a injustiça, depois de manchar-se com adultérios, fornicações, pederastias, avarezas e sacrílegas idolatrias, para esses, existirá a ira e a indignação, a tribulação e a angústia, e, por fim o fogo eterno se apoderará deles.
Amigo, tu replicaste: “Mostra-me teu Deus”. Pois bem: esse é o meu Deus, e te aconselho que o temas e creias nele.

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segunda-feira, 7 de maio de 2018

47 - Teófilo de Antioquia (†181) Primeiro Livro a Autólico (Capítulo 6 ao 10)


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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Primeiro Livro a Autólico (Capítulo 6 ao 10)

Capítulo VI – Condições intelectuais para o conhecimento de Deus (cont.)
Ó homem, considera, portanto, as obras de Deus: a variedade das estações segundo os tempos, a mudança dos ares, o curso bem regrado dos elementos, a marcha também ordenada dos dias e das noites, dos meses e dos anos; a variada formosura das sementes, das plantas e dos frutos; a grande diversidade de criações: quadrúpedes e aves, répteis e peixes, seja de água doce, seja do mar; o instinto dado aos mesmos animais para gerar e criar, não para sua própria utilidade, mas para que o homem aproveite; a providência com que Deus prepara o alimento para toda carne, a submissão à humanidade que ele impôs a todas as coisas; as torrentes das fontes doces e dos rios perenes, o aparecimento oportuno do orvalho, das chuvas e das tempestades que acontecem segundo os tempos; o movimento tão variado dos elementos celestes, o luzeiro da manhã que surge para anunciar a vinda do grande astro, a conjunção da Plêiade e do Órion, o Arturo e o coro dos outros astros que circulam na abóbada celeste, aos quais a infinita sabedoria de Deus pôs nomes próprios.
É unicamente esse Deus que tirou a luz das trevas, que tira a luz de seus depósitos, que conserva os depósitos do vento, os reservatórios do abismo, os limites dos mares, os depósitos das neves e granizos, que junta as águas nos reservatórios do abismo ejunta as trevas em seus depósitos, tira a luz doce, desejada e grata, de seus depósitos, faz subir as nuvens da extremidade da terra, multiplica os relâmpagos para chover, envia o trovão para infundir medo, anuncia de antemão o seu estrondo por meio do relâmpago, para que a alma não sofra emoção súbita que a deixaria inanimada, e ainda modera a força do relâmpago que vem dos céus, para que não abrase a terra. De fato, se o relâmpago desenvolvesse todo o seu poder, abrasaria a terra e igualmente o trovão transtornaria tudo o que há nela.


Capítulo VII – Condições intelectuais para o conhecimento de Deus (cont.)
Esse é o meu Deus, Senhor do universo, o Único que estendeu os céus e estabeleceu a largura da terra sob o céu, que perturba a profundeza do mar e faz ressoar suas ondas, que domina a sua força e acalma a agitação de suas ondas, que alicerçou a terra sobre as águas e deu seu espírito que a alimenta, cujo sopro tudo vivifica e, se ele o retivesse, tudo desfaleceria. Esse sopro, ó homem, faz a tua voz; tu respiras o espírito dele, e tu não o conheces. Isso acontece por causa da cegueira de tua alma e endurecimento do teu coração. Mas, se quiseres, podes curar-te. Coloca-te nas mãos do médico e ele operará os olhos de tua alma e do teu coração. Quem é esse médico? É Deus que cura e vivifica através do Verbo e da Sabedoria. Deus fez tudo a través do seu Verbo e da sua Sabedoria. Por seu Verbo foram estabelecidos os céus e por seu Espírito toda a força deles. Sua Sabedoria é poderosíssima. Por sua Sabedoria, Deus colocou os alicerces da terra, por sua inteligência dispôs os céus, em sua prudência os abismos se abriram e as nuvens derramaram o orvalho. Fé e visão Ó homem, se compreenderes isso, e viveres de maneira pura, piedosa e justa, poderás ver a Deus. Antes de tudo, porém, entrem em teu coração a fé e o temor de Deus, e então compreenderás isso. Quando depuseres a mortalidade e te revestires da incorruptibilidade, verás a Deus de maneira digna. Com efeito, Deus ressuscitará a tua carne, imortal, juntamente com tua alma. Então, tornado imortal, verás o imortal, contanto que agora tenhas fé nele. Então reconhecerás que falaste injustamente contra ele.

Capítulo VIII – Crer na ressurreição é razoável
Tu, porém, não crês que os mortos ressuscitam. Quando isso acontecer, então crerás, queiras ou não. E essa crença será considerada incredulidade, se não creres desde agora. Mas, por que não crês? Não sabes que a fé vai à frente de todas as coisas? De fato, qual lavrador pode colher, se antes não confia a semente à terra? Ou quem pode atravessar ornar, se antes não se confia à embarcação e ao piloto? Qual doente pode curar-se, se antes não se confia ao médico? Qual arte ou ciência pode alguém aprender, se antes não se entrega e se confia ao mestre? Portanto, se o lavrador crê na terra, o viajante no navio, o doente no médico, por que tu não queres confiar-te a Deus, do qual recebeste tantos dons? O primeiro dom é te haver tirado do nada para o ser. Se houve momento em que nem teu pai, nem tua mãe existiam, muito menos existias tu. Ele te plasmou de uma substância úmida e pequena e de uma pequenina gota, que também não existia antes, e finalmente te introduziu neste mundo. Além disso, crês que as imagens fabricadas por homens são deuses e que operam prodígios, e não crês que Deus, que te fez, possa novamente tornar a fazer-te?

Capítulo XIX – Vós credes em outros deuses
Os nomes dos deuses, aos quais dizes cultuar, são nomes de homens mortos. Quem eram esses e que valiam? Não se diz que Cronos era comedor de crianças e que devorava seus próprios filhos? Se falas de Zeus, filho dele, conheças bem sua vida e prodígios. Primeiramente, foi alimentado no Ida por uma cabra; depois, matando-a e esfolando-a, da pele fez para si, conforme as fábulas, uma vestimenta. Seus outros feitos, como, por exemplo, seu casamento com sua irmã, seus adultérios e corrupções de rapazes, Homero e os outros poetas os cantam melhor do que eu. Além disso, para que fazer a lista de seus filhos, um Héracles que se queima vivo; um Dioniso embriagado e louco; um ApoIo que tem medo de Aquiles e dele foge, e depois se enamora de Dafne e não fica sabendo da morte de Jacinto; uma Afrodite ferida; um Ares que é perdição dos mortais e, finalmente, o sangue que escorre de todos esses pretensos deuses? E isso tudo ainda é moderado, quando vemos um deus esquartejado que chamam de Osíris, do qual a cada ano se celebram mistérios, como se se perdesse e se encontrasse e fosse procurado membro por membro. Não se sabe se foi perdido, nem se mostra se foi achado! Por que devo falar de Átis mutilado, ou de Adônis, que anda errante pela selva, que caça e é ferido por um javali, ou de Asclépio fulminado, ou de Serápis, que vai fugitivo de Sínope para Alexandria, ou da frígia Artemis, tonta, fugitiva, assassina, caçadora e enamorada de Eudimião? Não somos nós que dizemos tudo isso, mas os vossos escritores e poetas que os apregoam.

Capítulo X – Vós credes em outros deuses (cont.)
Para que também fazer o catálogo da multidão de animais que os egípcios cultuam? Répteis e bestas, feras e aves, peixes das águas, e até os banhos dos pés e os ruídos vergonhosos. Se me falas dos gregos e das outras nações, elas cultuam pedras, madeiras e outras matérias, como dissemos antes, que são representações de homens mortos. Com efeito, sabemos que Fídias fez em Pisa o Zeus Olímpico para os éleos e a Atena da Acrópole para os atenienses. E agora, eu pergunto também a ti, homem: Quantos Zeus existem? Em primeiro lugar, chama-se Zeus o olímpico; depois, há um Zeus latino, um Zeus cássio, um Zeus fulminador, um Zeus Propator, um Zeus noturno, um Zeus defensor da cidade, um Zeus capitolino. E ainda o Zeus, filho de Cronos, que foi rei dos cretenses e tem sua sepultura em Creta. Quanto aos outros, não foram sequer considerados dignos de sepultura. Falar-me-ás da mãe dos pretensos deuses? Deus me livre nomear com minha boca suas ações, pois não nos é lícito sequer nomear tais coisas, ou as ações com que seus servidores lhe prestam culto e as contribuições e tributos que eles e seus filhos pagam ao imperador. Não são deuses, mas ídolos, como anteriormente dissemos, obras das mãos dos homens e demônios impuros. Que aqueles que os fabricam se tornem como eles e aqueles que neles põem a sua confiança.


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