terça-feira, 24 de outubro de 2017

Estudo 32 - I Apologia de Justino Mártir - Capítulos 51-59

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Pais da Igreja: Vida e Obra
Justino Mártir (+165)
I Apologia. Capítulos 51-59
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51. 1 O Espírito profético, afim de fazer-nos entender que quem padece essas coisas é de origem inexplicável e reina sobre seus inimigos, assim disse: "Quem explicará a sua geração? De fato, sua vida é arrebatada da terra, pelas iniquidades deles caminha para a morte.
2 Em lugar de sua sepultura darei os mares e por sua morte os rios, porque ele não cometeu iniquidade e nem se achou engano em sua boca e o Senhor quer purificá-lo do açoite.
3 Se oferecerdes pelo pecado, vossa alma verá descendência duradoura.
4 O Senhor quer afastar a alma dele da fadiga, mostrar-lhe luz, formá-lo na inteligência, justificar o justo que serviu bem a muitos, e ele mesmo carregará os nossos pecados.
5 Por isso, herdará a muitos e repartirá os despojos dos fortes, porque sua alma foi entregue à morte e por ter sido contado entre os iníquos, por ter carregado os pecados e ter-se entregue pelas iniquidades deles".
6 Escutai como foi profetizado que ele deveria subir ao céu.
7 Diz o seguinte: "Levantai as portas dos céus; abri-vos, portas, para que entre o rei da glória. Quem é esse rei da glória? O Senhor forte e o Senhor poderoso"
8 Que ele também há de vir dos céus com glória, escutai o que sobre isso foi dito pelo profeta Jeremias.
9 Ele diz assim: "Eis como um filho de homem vem sobre as nuvens do céu, e seus anjos com ele.

A dupla vinda de Cristo

52. 1 Como demonstramos que tudo o que aconteceu até agora foi previamente anunciado pelos profetas, agora, como em tudo, é necessário também que creiamos no que foi igualmente profetizado, mas que ainda vai acontecer.
 2 Com efeito, do mesmo modo que o acontecido, antecipadamente anunciado, por mais que não tivesse sido compreendido, aconteceu; assim também o que ainda falta para ser cumprido, acontecerá, por mais que não se compreenda nem se creia.
3 Assim é que os profetas anunciaram duas vindas de Cristo: uma, já cumprida, como homem desonrado e passível; a segunda, quando virá dos céus acompanhado de seu exército de anjos, quando ressuscitará também os corpos de todos os homens que existiram; revestirá de incorruptibilidade os que forem dignos, e enviará os iníquos, com percepção eterna, ao fogo eterno, junto com os perversos demônios.
4 Vamos mostrar como foi profetizado que isso deverá acontecer.
5 Foi o profeta Ezequiel quem disse assim: "Unir-se- á juntura com juntura, osso com osso, e as carnes voltarão a brotar.
6 E todo joelho se dobrará diante do Senhor e toda língua o confessará".
7 Escutai o que foi dito sobre a percepção e o tormento em que se encontrarão os injustos.
8 É o seguinte: "Seu verme não descansará e seu fogo não se extinguirá".
9 Então eles se arrependerão, quando de nada mais lhes valerá.
10Sobre o que dirão e farão os povos dos judeus, quando o virem vir em glória, o profeta Zacarias disse esta profecia: "Mandarei que os quatro ventos reúnam meus filhos dispersos, ordenarei ao vento norte que os traga e ao vento sul que não se oponha.
11Então haverá grande choro em Jerusalém, não pranto de bocas e lábios, mas pranto de coração; não rasgarão suas roupas, mas suas almas.
12Cada tribo baterá no peito, olharão aquele que transpassaram e dirão: Por que, Senhor, nos desviaste de teu caminho? A glória que nossos pais bendisseram converteu-se em opróbrio para nós."

Profecia sobre a gentilidade
53. 1 Poderíamos mostrar muitas outras profecias. Entretanto, terminamos essa prova por aqui, considerando que as citadas são suficientes para convencer aqueles que têm ouvidos para ouvir e entender, e podem assim precaver-se que não somos como os que inventam suas fábulas sobre os supostos filhos de Zeus, que nos contentamos apenas com afirmar, sem termos provas para alegar.
2 De fato, por que motivo haveríamos de crer que um homem crucificado é o primogênito do Deus ingênito e que julgará todo o gênero humano, se não encontrássemos testemunhos sobre ele, publicados antes de ele ter nascido como homem e não os víssemos literalmente cumpridos:
3 a devastação da terra dos judeus, homens de todas as raças que creem através do ensinamento dos apóstolos e recusam seus antigos costumes em cujos erros se criaram e ainda ao vermos que nós mesmos, procedentes das nações, somos mais numerosos e mais sinceros cristãos do que os judeus e os samaritanos?
4 Deve-se saber que o restante de todas as raças humanas são chamadas de nações pelo Espírito profético; a casta dos judeus e samaritanos, porém, chama-se Israel e Casa de Jacó.
5 Citarei para vós a profecia que prediz que os crentes serão em maior número entre aqueles que procedem da gentilidade do que entre os judeus e samaritamos. Diz assim: "Alegra-te, estéril, tu que não concebes; rompe e grita de júbilo, tu que não sofres dores de parto, porque são mais numerosos os filhos da abandonada do que daquela que tem marido".
6 De fato, todas as nações que cultuavam obras manufaturadas estavam abandonadas pelo verdadeiro Deus; mas os judeus e samaritanos, que tinham a palavra de Deus transmitida pelos profetas e estavam constantemente esperando Cristo, vindo este, o desconheceram, exceto alguns poucos, dos quais o Espírito profético havia predito, através de Isaías, que se salvariam.
7 Disse pessoalmente sobre eles mesmos: "Se o Senhor não nos tivesse deixado semente, nos teríamos tornado como Sodoma e Gomorra"
8 Moisés conta que Sodoma e Gomorra foram cidades de homens ímpios que Deus destruiu, queimando-as com fogo e enxofre, sem que nelas alguém se salvasse, a não ser um estrangeiro, de origem caldéia, chamado Ló, juntamente com suas filhas.
9 Ainda hoje, quem quiser, pode ver toda essa terra que continua deserta, calcinada e estéril.
 10 Que os cristãos da gentilidade seriam mais sinceros e fiéis,
11eis o que disse o profeta Isaías: "Israel é incircunciso de coração, as nações o são de prepúcio".
12A contemplação de tantos fatos pode bem levar razoavelmente à persuasão e à fé os que amam a verdade, que não seguem a opinião, nem se deixam dominar por suas paixões.

As fábulas pagãs
54. 1 Ao contrário, os que ensinam os mitos inventados pelos poetas não podem oferecer nenhuma prova aos jovens que os aprendem de cor. E nós demonstramos que foram ditos por obra dos demônios perversos, para enganar e extraviar o gênero humano.
2 Com efeito, ouvindo os profetas anunciarem que Cristo viria e que os homens ímpios seriam castigados através do fogo, colocaram na frente muitos que se disseram filhos de Zeus, crendo que assim conseguiriam que os homens considerassem as coisas a respeito de Cristo como um conto de fada, semelhante aos contados pelos poetas.
3 Tudo se propagou principalmente entre os gregos e outras nações, onde mais os demônios tinham ouvido, pelo anúncio dos profetas, que se deveria crerem Cristo.
4 Nós colocaremos às claras que, embora ouvindo o que dizem os profetas, não o entenderam exatamente, mas parodiaram como charlatães aquilo que se refere a Cristo.
5 Como já dissemos, o profeta Moisés é mais antigo do que todos os escritores e por ele, como já indicamos, foi feita esta profecia: "Não faltará príncipe de Judá, nem chefe de seus músculos, até que venha aquele a quem está reservado, e ele será a esperança das nações, amarrando seu jumentinho na sua videira e lavando sua roupa no sangue da uva".
6 ouvindo essas palavras proféticas, os demônios disseram que Dioniso tinha sido filho de Zeus, ensinaram que ele tinha inventado a vinha, introduziram o asno em seus mistérios e propagaram que ele, depois de ter sido esquartejado, subiu ao céu.
7 Acontece, porém, que na profecia de Moisés não aparecia com clareza se aquele que devia nascer seria Filho de Deus, nem se aquele que deveria montar o jumentinho permaneceria na terra ou subiria ao céu. Por outro lado, o nome de jumentinho, originariamente pode tanto significar a cria do asno como do cavalo. Assim, não sabendo se a profecia deveria ser tomada como símbolo de sua vinda montado num jumentinho de asno ou num potro de cavalo, nem se seria filho de Deus, como dissemos, ou de homem, os demônios inventaram que, Belerofonte, homem nascido de homens, subiu ao céu montado no cavalo Pégaso.
8 Como também ouviram por outro profeta, Isaías, que haveria de nascer de uma virgem e que por sua própria virtude subiria ao céu, adiantaram-se com a lenda de Perseu.
9 Pela mesma razão, conhecendo o que fora dito dele nas profecias anteriormente citadas: "Forte como um gigante para percorrer seu caminho", inventaram um Hércules forte, que andava peregrinando por toda a terra.
10 Por fim, ao inteirarem-se que estava profetizado que ele curaria todas as enfermidades e ressuscitaria mortos, nos trouxeram a fábula de Asclépio.

A cruz desconhecida pelos demônios
55. 1 Todavia, em nenhum lugar e em nenhum dos supostos filhos de Zeus arremedaram a crucifixão, por não tê-la entendido, pois, conforme dissemos antes, tudo o que se refere à cruz foi dito de forma simbólica.
2 Ela é justamente, como predisse o profeta, o maior símbolo de sua força e de seu império, como se manifesta ainda pelas mesmas coisas que caem sob os nossos olhos. Com efeito, considerai se tudo o que existe no mundo pode ser administrado ou ter comunicação entre si sem essa figura.
3 De fato, não é possível sulcar o mar se esse troféu de vitória, que aqui se chama vela, não se mantém de pé no navio; sem ela não se ara a terra; também os cavadores e artesãos não realizam o seu trabalho sem instrumentos que têm essa figura.
4 A própria figura humana não se distingue em qualquer outra coisa dos animais irracionais, senão por ser reta, poder abrir os braços e levar, partindo de frente, proeminente, o chamado nariz, pelo qual se verifica a respiração do animal, e que não mostra outra coisa que a forma da cruz.
5 E o profeta falou desta maneira: "A respiração diante do nosso rosto, Cristo Senhor".
6 E ainda as vossas próprias insígnias deixam manifesta a força dessa figura, isto é, vossos estandartes e troféus de vitória, com os quais em todo lugar realizais as vossas marchas, mostrando os sinais do império e do poder, até quando o fazeis sem vos dar conta deles.
7 As próprias imagens de vossos imperadores, quando morrem, são consagradas por vós com essa figura, e vós os chamais deuses em vossas inscrições.
8 Uma vez que os exortamos pelo raciocínio e por uma figura patente, na medida de nossas forças, daqui por diante nós não nos sentiremos irresponsáveis, mesmo que continueis incrédulos, pois o que dependia de nós já foi feito e chegou ao fim.

Outra vez Simão mago
56. 1 Os maus demônios, porém, não se contentaram em inventar antes da aparição de Cristo as fábulas dos supostos filhos de Zeus. Pelo contrário, tendo aparecido e conversado com os homens, ficaram sabendo que fora predito pelos profetas que todos nele creriam e que seria esperado em todas as nações e, por isso, como dissemos, lançaram outros, como Simão e Menandro, ambos de Samaria, os quais, realizando prodígios mágicos, enganaram a muitos e ainda os mantêm enganados.
2 E, com efeito, como já dissemos, estando Simão em Roma, a vossa cidade imperial, no tempo de Cláudio César, de tal modo ele impressionou o sacro Senado e o povo romano, que foi tido como deus e honrado com uma estátua como a dos outros que vós considerais como deuses.
3 Por isso nós vos suplicamos que o sacro Senado e o povo romano conheçam este nosso escrito, a fim de que, se houver alguém que ainda esteja enganado pelos ensinamentos dele, conheça a verdade e fuja do erro.
4 Quanto à estátua, se quiserdes, derrubai-a.

Não tememos a morte
57. 1 Os demônios não conseguem convencer que não haverá a conflagração para castigar os ímpios, do mesmo modo que não conseguiram esconder a Cristo depois que ele nasceu. A única coisa que conseguem é fazer que aqueles que vivem irracionalmente e se desenvolvem em meio aos maus costumes, entregues às suas paixões e seguindo a opinião vã, nos tirem a vida e nos odeiem. Nós, porém, não só não os odiamos, mas, como é evidente, queremos, por pura compaixão que temos por eles, persuadi-los a que se convertam.
2 Com efeito, não tememos a morte quando reconhecemos que se deve absolutamente morrer e nada de novo acontece nessa ordem de coisas, mas o mesmo de sempre. Se estas produzem fartura aos que delas usufruem ainda que só por um ano, que prestem atenção ao nosso ensinamento, para que estejam isentos de dor e de necessidades.
3Contudo, se acreditam que não existe nada depois da morte, afirmando que os que morrem terminam em uma absoluta inconsciência, nesse caso fazem-nos um beneficio ao livrar-nos dos sofrimentos e necessidades daqui. Mas eles se mostram maus, inimigos dos homens e seguidores de opinião, pois não nos tiram a vida para nos libertar, mas nos matam para privarnos da vida e do prazer.

Marcião, inspirado pelo demônio
58. 1 Como dissemos antes, os maus demônios também lançaram à frente Marcião do Ponto, que agora ensina a negar o Deus criador de tudo o que é celeste e terrestre, assim como a Cristo, Filho de Deus, que foi anunciado pelos profetas, e prega não sabemos qual outro deus fora do criador de todas as coisas, assim como outro filho seu.
2 Muitos lhe deram fé, como se ele fosse o único que conhece a verdade, e zombam de nós, apesar de não terem nenhuma prova do que dizem, mas, sem qualquer razão, são presa de doutrinas ímpias e dos demônios, como cordeiros arrebatados pelo lobo.
3 De fato, os chamados demônios em nada despedem tanto empenho como em afastar os homens de Deus Criador e de Cristo, seu primogênito. Para isso, àqueles que são capazes de levantar da terra, eles os prenderam e continuam prendendo ao terreno e às obras de mãos dos homens, e aos que se lançam à contemplação do divino, se não possuem uma fala discreta e limpa e uma vida isenta de paixão, preparam-lhes a armadilha para lançá-los à impiedade.

Platão, discípulo de Moisés
59. 1 De nossos mestres também, isto é, do Verbo que falou pelos profetas, Platão tomou o que disse sobre Deus ter criado o mundo, transformando uma matéria informe.Para convencer-nos disso, escutai o que disse literalmente Moisés, o primeiro dos profetas, anteriormente já citado, mais antigo do que os escritores gregos. Por meio dele, dando-nos a entender de que maneira e com quais elementos Deus fez o mundo no princípio, o Espírito profético assim disse:
 2 "No princípio, Deus fez o céu e a terra.
3 A terra era invisível e informe, as trevas ficavam por cima do abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas.
4 E Deus disse: ‘Faça-se a luz'. E a luz foi feita" .
5 Consequentemente, todo o mundo foi feito pela palavra de Deus a partir de elemento preexistente, antes indicado por Moisés, coisa que tanto Platão como os que seguem as suas doutrinas aprenderam, e também nós a aprendemos, e vós podeis persuadir-vos disso.
6 E mesmo aquilo que entre os poetas se chama "Érebo" ou abismo, sabemos que já fora dito antes por Moisés.

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terça-feira, 17 de outubro de 2017

Estudo 31 - Justino Mártir (165) Apologia I – Capítulos 41 ao 50

31
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Justino Mártir (165)
Apologia I – Capítulos 41 ao 50

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Profecia sobre o Reino de Cristo
41. 1 Em outra profecia, o Espírito profético, dando a entender, através de Davi, que Cristo haveria de reinar depois de crucificado, diz assim: “Louvai o Senhor, terra inteira, e anunciai dia a dia a sua salvação, porque o Senhor é grande e digno do maior louvor, temível sobre todos os deuses. Com efeito, todos os deuses das nações são imagens de demônios, mas Deus fez os céus.
2  Glória e louvor em sua presença, força e orgulho no lugar de sua santificação. Glorificai ao Senhor, aquele que é Pai dos séculos.
3 Tomai graça e entrai em sua presença, adorando-o em seus santos átrios. Toda a terra tema diante de sua face, endireite seu caminho e não se perturbe. 4 Que as nações se alegrem: o Senhor reinou pelo madeiro".

Cristo, nossa alegria
42. 1 Esclarecemos também o caso no qual o Espírito profético fala do futuro como já realizado, como já se pode conjecturar na passagem antes mencionada, a fim de que também nisso os que lêem não tenham desculpa.
2 O que é absolutamente conhecido como algo que acontecerá, é predito pelo Espírito profético como já conhecido. Que as coisas devam ser assim, ponde toda atenção de vossa mente ao que vamos dizer.
3 Davi fez a profecia citada, mil e quinhentos anos antes que Cristo feito homem fosse crucificado, e nenhum dos antes nascidos ofereceu, ao ser crucificado, alegria para as nações, e ninguém também depois dele.
4 Em troca, Cristo, que foi crucificado, morreu e ressuscitou em nosso tempo, não só reinou ao subir ao céu, mas pela sua doutrina, pregada pelos apóstolos em todas as nações, é a alegria de todos os que esperam a imortalidade que ele nos prometeu.



Profecia e livre-arbítrio
43. 1 Do que dissemos anteriormente, ninguém deve tirar a conclusão de que afirmamos que tudo o que acontece, acontece por necessidade do destino, pelo fato de que dizemos que os acontecimentos foram conhecidos de antemão. Por isso, resolveremos também essa dificuldade.
2 Nós aprendemos dos profetas e afirmamos que esta é a verdade: os castigos e tormentos, assim como as boas recompensas, são dadas a cada um conforme as suas obras. Se não fosse assim, mas tudo acontecesse por destino, não haveria absolutamente livre-arbítrio. Com efeito, se já está determinado que um seja bom e outro mau, nem aquele merece elogio, nem este, vitupério.
3 Se o gênero humano não tem poder de fugir, por livre determinação, do que é vergonhoso e escolher o belo, ele não é irresponsável de nenhuma ação que faça.
4 Mas que o homem é virtuoso e peca por livre escolha, podemos demonstrar pelo seguinte argumento:
5 Vemos que o mesmo sujeito passa de um contrário a outro.
6 Ora, se estivesse determinado ser mau ou bom, não seria capaz de coisas contrárias, nem mudaria com tanta frequência. Na realidade, nem se poderia dizer que uns são bons e outros maus, desde o momento que afirmamos que o destino é a causa de bons e maus, e que realiza coisas contrárias a si mesmo, ou que se deveria tomar como verdade o que já anteriormente insinuamos, isto é, que virtude e maldade são puras palavras, e que só por opinião se tem algo como bom ou mau. Isso, como demonstra a verdadeira razão, é o cúmulo da impiedade e da iniquidade.
7 Afirmamos ser destino ineludível que aqueles que escolheram o bem terão digna recompensa e os que escolheram o contrário, terão igualmente digno castigo. 8 Com efeito, Deus não fez o homem como as outras criaturas. Por exemplo: árvores ou quadrúpedes, que nada podem fazer por livre determinação. Nesse caso, não seria digno de recompensa e elogio, pois não teria escolhido o bem por si mesmo, mas nascido já bom; nem, por ter sido mau, seria castigado justamente, pois não o seria livremente, mas por não ter podido ser algo diferente do que foi.

Platão depende de Moisés
44. 1 Esta doutrina foi ensinada a nós pelo Espírito profético que, por meio de Moisés, nos testemunha que falou ao primeiro homem que havia criado do seguinte modo: “Olha que diante de tua face está o bem e o mal: escolhe o bem”.
2 E, de novo, através de Isaías, outro profeta, sabemos que, na pessoa de Deus, Pai e soberano do universo, foi dito o seguinte sobre esse mesmo assunto:
3"Lavai-vos e purificai-vos, tirai a maldade de vossas almas. Aprendei a fazer o bem, julgai o órfão, fazei justiça à viúva; então, vinde e conversaremos, diz o Senhor. Mesmo que vossos pecados sejam como a púrpura, eu os deixarei brancos como a lã; mesmo que sejam como escarlate, e os tornarei brancos como a neve.
4 Se quiserdes e me escutardes, comereis os bens da terra; mas se não me escutardes, a espada vos devorará, porque assim falou a boca do Senhor".
5 A expressão anterior "A espada vos devorará" não quer dizer que os que desobedecerem serão passados a fio de espada, mas por "espada" deve-se entender o fogo, cuja presa são os que escolheram praticar o mal.
6 Por isso, diz: "A espada vos devorará, porque assim falou a boca do Senhor."
7 Se tivesse falado da espada que corta e se separa imediatamente, não teria dito "devorará".
 8 De modo que o próprio Platão, ao dizer: "A culpa é de quem escolhe. Deus não tem culpa", falou isso por tê-lo tomado do profeta Moisés, pois sabe-se que este é mais antigo do que todos os escritores gregos.
9 Em geral, tudo o que os filósofos e poetas disseram sobre a imortalidade da alma e da contemplação das coisas celestes, aproveitaram-se dos profetas, não só para poder entender, mas também para expressar isso.
10Daí que parece haver em todos algo como germes de verdade. Todavia, demonstra-se que não o entenderam exatamente, pelo fato de que se contradizem uns aos outros.
11Concluindo: Se dizemos que os acontecimentos futuros foram profetizados, nem por isso afirmamos que aconteçam por necessidade do destino; afirmamos sim que Deus conhece de antemão tudo o que será feito por todos os homens e é decreto seu recompensar cada um segundo o mérito de suas obras e, por isso, justamente prediz, por meio do Espírito profético, o que para cada um virá da parte dele, conforme o que suas obras mereçam. Com isso, ele constantemente conduz o gênero humano à reflexão e à lembrança, demonstrando-lhe que cuida e usa de providência para com os homens.
12Todavia, pela ação dos maus demônios, decretou-se pena de morte contra aqueles que lerem os livros de Histaspes, da Sibila e dos profetas, a fim de impedir, por meio do terror, que os homens consigam, lendo-os, o conhecimento do bem, e retê-los como seus escravos; coisa que definitivamente os demônios não puderam conseguir.
13Com efeito, não só os lemos intrepidamente, mas também, como vedes, nós vo-los oferecemos, para que os examineis, pois estamos seguros de que agradarão a todos. Mesmo que consigamos persuadir algumas poucas pessoas, nosso ganho será muito grande, pois, como bons agricultores, receberemos do amo a nossa recompensa.

Ascensão e glória de Jesus
45. 1 Agora escutai o que disse o profeta Davi sobre o fato de que Deus, Pai do universo, levaria Cristo ao céu, depois de sua ressurreição dos mortos, e retê-lo-ia consigo até ferir os demônios, seus inimigos, e até se completar o número dos que por ele, de antemão conhecidos como bons e virtuosos, em respeito dos quais justamente ainda não foi levada a cabo a conflagração universal.
2 As palavras do profeta são estas: "Disse o Senhor ao meu Senhor: Senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos como escabelo de teus pés.
3 O Senhor te enviará o cetro de poder de Jerusalém, e tu dominarás em meio aos esplendores de teus inimigos.
4 Contigo o império no dia de tua potência, em meio aos esplendores de teus santos. Do meu seio, antes do astro da manhã, eu te gerei”.
5 Portanto, o que ele diz "Enviar-te-á de Jerusalém o cetro de poder" era anúncio antecipado da palavra poderosa que, saindo de Jerusalém, os apóstolos pregaram por toda parte e que nós, a despeito da morte decretada dos que ensinam ou absolutamente confessam o nome de Cristo, em todo lugar também a abraçamos e ensinamos.
6 E se também vós ledes como inimigos estas nossas palavras, além de matar-nos, como já dissemos antes, nada podeis fazer. A nós, isso nenhum dano causará; a vós, porém, e a todos os que injustamente nos odeiam e não se convertem, trazer-vos-á castigo de fogo eterno.

Cristãos antes de Cristo
46. 1 Alguns, sem motivo, para rejeitar o nosso ensinamento, poderiam nos objetar que, ao dizermos que Cristo nasceu somente há cento e cinquenta anos sob Quirino e ensinou sua doutrina mais tarde, no tempo de Pôncio Pilatos, os homens que o precederam não têm nenhuma responsabilidade. Tratemos de resolver essa dificuldade.
2 Nós recebemos o ensinamento de que Cristo é o primogênito de Deus e indicamos antes que ele é o Verbo, do qual todo o gênero humano participou.
3 Portanto, aqueles que viveram conforme o Verbo são cristãos, quando do foram considerados ateus, como sucedeu entre os gregos com Sócrates, Heráclito e outros semelhantes; e entre os bárbaros com Abraão, Ananias, Azarias e Misael, e muitos outros, cujos fatos e nomes omitimos agora, pois seria longo enumerar.
4 De modo que também os que antes viveram sem razão, se tornaram inúteis e inimigos de Cristo e assassinos daqueles que vivem com razão; mas os que viveram e continuam vivendo de acordo com ela, são cristãos e não experimentam medo ou perturbação.
5 O motivo pelo qual ele nasceu homem de uma virgem, pela virtude do Verbo conforme o desígnio de Deus, Pai e soberano do universo, e foi chamado Jesus e, depois de crucificado e morto, ressuscitou e subiu ao céu, o leitor inteligente poderá perfeitamente compreendê-lo pelas longas explicações que foram dadas até aqui.
6 De nossa parte, como não é necessário demonstrar esse ponto agora, passaremos às demonstrações mais urgentes.

Sobre a ruína de Jerusalém
 47. 1 Escutai o que foi predito pelo Espírito profético sobre á devastação futura da terra dos judeus. As palavras foram ditas como que na pessoa daqueles que se maravilham com o acontecido.
2 São as seguintes: "Sião ficou deserta, Jerusalém ficou solitária, e a casa, nosso santuário, foi profanada; a glória que nossos pais bendisseram tornou-se presa do fogo e todas as suas maravilhas se fundiram.
3 A esse repeito, tu suportaste, te calaste e nos humilhaste muito".
4 Que Jerusalém tenha ficado deserta, tal como fora predito, é coisa de que estais bem convencidos.
5 E não só se predisse a sua devastação, mas também, pelo profeta Isaías, que a nenhum deles seria permitido habitar nela, com estas palavras: "A terra deles está deserta, e os próprios inimigos a devoram diante deles; e deles não haverá ninguém que nela se encontrasse e decretastes pena de morte contra o judeu que nela habite". Que vós mesmos montastes guarda para que ninguém nela fosse encontrado, é coisa que sabeis perfeitamente.

Os milagres de Cristo
48. 1 Que nosso Cristo curaria todas as enfermidades e ressuscitaria mortos, escutai as palavras com que isso foi profetizado.
2 São estas: "Diante dele, o coxo saltará como cervo e a língua dos mudos se soltará, os cegos recobrarão a vista, os leprosos ficarão limpos e os mortos ressuscitarão e começarão a andar".
3 Que tudo isso foi feito por Cristo, vós o podeis comprovar pelas Atas redigidas no tempo de Pôncio Pilatos.
4 Sobre como foi de antemão indicado que ele haveria de ser morto, juntamente com os homens que nele esperam, escutai as palavras do profeta Isaías:
5 "Eis como pereceu o justo, e ninguém reflete em seu coração; varões justos são tirados do meio, e ninguém considera. O justo é tirado da vista da iniquidade, e ficará em paz: seu sepulcro é tirado do meio" .

A gentilidade
49. 1Novamente olhai o que o profeta Isaías diz: os povos das nações que não o esperavam, iriam adorá-lo; ao contrário, os judeus que o esperavam, o desconheceram quando ele veio. As palavras são ditas na pessoa de Cristo.
2Ei-las: "Manifestei-me aos que não perguntavam por mim, fui encontrado por aqueles que não me buscavam. Eu disse: ‘Eis-me aqui' a uma nação que não invocava o meu nome. 3 Estendi minhas mãos a um povo que não crê e contradiz, aos que andam por caminho não bom, mas atrás de seus pecados.
4 O povo que me exaspera está diante de mim"
5 Foi assim que os judeus, que possuíam as profecias e esperavam continuamente Cristo, quando este veio não o reconheceram; e não apenas isso, pois inclusive o maltrataram. Ao contrário, os gentios, que nunca tinham ouvido falar dele até que os apóstolos, tendo saído de Jerusalém, lhes contaram sua vida e lhes entregaram as profecias, cheios de alegria e de fé, renunciaram aos ídolos e se consagraram ao Deus ingênito, por meio de Cristo.
6 Que de antemão foram conhecidas essas ignomínias que se propagariam contra os que confessam a Cristo e como são miseráveis aqueles que o blasfemam, dizendo que é bom preservar os antigos costumes, escutai como o profeta Isaías o diz brevemente.
7 São suas as palavras: "Ai daqueles que chamam amargo ao doce e doce, ao amargo!"

 A paixão e glória de Cristo
50. 1 Escutai agora as profecias relativas à paixão e desonras que, feito homem, ele sofreria por nós, e a glória com que voltará.
2 São estas: "Porque entregaram sua alma à morte e foi contado entre os iníquos, ele tomou os pecados de muitos e se reconciliará com os iníquos.
3 Eis que meu servo entenderá, será levantado e glorificado muito.
4 Do mesmo modo como muitos ficarão atônitos à tua vista - tão desonrada está a tua figura dos homens e tua glória tão longe dos homens - assim muitas nações ficarão maravilhadas e reis permanecerão silenciosos, porque aqueles para os quais não foi anunciado verão, e os que não ouviram, entenderão.
5 Senhor quem creu naquilo que ouviu de nós? Para quem foi revelado o braço do Senhor? Anunciamos diante dele como menino, como raiz em terra sedenta.
6 Ele não tem beleza nem glória; nós o vimos e não tinha beleza nem formosura, mas o seu aspecto estava desonrado e debilitado em comparação com os homens.
7 Homem sujeito ao açoite e que sabe suportar a enfermidade, seu rosto está escondido, foi desonrado e desprezado.
8 Leva sobre si nossos pecados e padece por nós, e nós consideramos que ele estava em fadiga, em açoite e desgraça.
9 Ele foi ferido por causa de nossas iniquidades e debilitado por causa de nossos pecados. A disciplina da paz estava sobre ele, fomos curados por sua chaga.
10Todos nós andávamos errantes como ovelhas, cada um se desviou pelo próprio caminho. Entregou-se por nossos pecados e, ao ser maltratado, não abre a boca. Foi levado como ovelha ao matadouro; como cordeiro que fica mudo diante daquele que o tosquia, ele também não abre a boca.
11Em sua humilhação, o seu julgamento foi tirado"mmm.
12Depois de ser crucificado, até seus discípulos o abandonaram e negaram. Depois, porém, quando ressuscitou dentre os mortos e foi visto por eles, depois que lhes ensinou a ler as profecias nas quais estava predito que isso deveria acontecer, e o viram subir ao céu e creram, depois que receberam a força que de lá lhes foi enviada por ele, espalharam-se entre todo tipo de homens, ensinaram-lhes todas essas coisas e foram chamados apóstolos.


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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Estudo 30 - Justino Mártir (†165) - I Apologia: Capítulos 32 ao 40

30
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Justino Mártir (†165)
I Apologia: Capítulos 32 ao 40


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32. 1 Moisés, que foi o primeiro dos profetas, disse literalmente: "Não faltará príncipe de Judá, nem chefe saído de seus músculos, até que venha aquele a quem está reservado. Ele será a esperança das nações, amarrando seu jumentinho à vinha e lavando sua roupa no sangue da uva" .
2 Portanto, é vosso dever averiguar com todo o rigor e inteirar-vos até quando os judeus tiveram príncipe e rei saído deles, até à aparição de Jesus Cristo, nosso Mestre e intérprete das profecias desconhecidas, tal como foi de antemão dito pelo Espírito Santo profético, por meio de Moisés, que não faltaria príncipe dos judeus até aquele para o qual está reservada a realeza.
3 Judá foi o antepassado dos judeus, e dele os judeus receberam esse nome, e vós, depois da aparição de Cristo, imperastes sobre os judeus e vos apoderastes de toda a sua terra.
4 As palavras: "Ele será a esperança das nações" queria dizer que gente de todas as nações esperará novamente a sua vinda, coisa que podeis ver com os vossos próprios olhos e comprovar na realidade, pois gente de todas as raças de homens espera aquele que foi crucificado na Judéia, depois de cuja a morte imediatamente a terra dos judeus foi tomada ao poder de lanças e entregue a vós.
5 A expressão: "Amarrando seu jumentinho à vinha e lavando sua roupa no sangue da uva" era símbolo do que havia de acontecer a Cristo e do que seria feito por ele.
6 Com efeito, foi assim que, na entrada de certa aldeia, estava um jumentinho amarrado a uma parreira, e ele mandou que seus discípulos lho levassem e, depois que o jumentinho foi levado, montou sobre ele e assim entrou em Jerusalém, onde estava o maior templo dos judeus, o mesmo que mais tarde foi destruído por vós. Depois da entrada em Jerusalém, ele foi crucificado, a fim de que se cumprisse o resto da profecia.
7 De fato, a passagem de que lavaria sua roupa no sangue da uva, era anúncio antecipado de sua paixão, significando que sofreria para lavar com seu sangue aqueles que acreditariam nele.
8 Com efeito, o que o Espírito divino chama pelo profeta "sua roupa", são os homens que crêem nele, nos quais habita a semente que procede de Deus, e que é o Verbo.
9 E fala-se também do "sangue da uva", para dar a entender que aquele que havia de aparecer teria certamente sangue, mas não de sêmen humano, e sim de virtude divina.
10  O Verbo é a primeira virtude ou potência depois de Deus, Pai e soberano de todas as coisas, e Filho seu. Como esse se tornou carne e nasceu homem, nós o diremos mais adiante.
11 De fato, do mesmo modo que o sangue da uva não é feito pelo homem, mas por Deus, da mesma forma dava-se a entender nessas palavras que o sangue de Cristo não procederia de sêmen humano, mas de virtude de Deus, como já dissemos.
12 E Isaías, outro profeta, diz a mesma coisa com outras palavras: "Levantar-se-á uma estrela de Jacó e uma flor subirá da raiz de Jessé; e as nações esperaram sobre o seu braço." Com efeito, uma estrela brilhante se levantou e uma flor subiu da raiz de Jessé, que é Cristo.
13 De fato, ele foi concebido, com a força de Deus, por uma virgem descendente de Jacó, que foi pai de Judá, antepassado dos judeus, de quem eu já falei; segundo o oráculo, Isaí foi o seu avô e Cristo, segundo a sucessão das gerações, é filho de Jacó e de Judá.

A concepção virginal

33. 1 Escutai agora como foi literalmente profetizado por Isaías que Cristo seria concebido por uma virgem. Ele diz o seguinte: "Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe porão o nome ‘Deus conosco’ " .
2 O que os homens poderiam considerar incrível e impossível de acontecer, Deus o indicou antecipadamente por meio do Espírito profético, para que quando acontecesse, não lhe fosse negada a fé, e sim, justamente por ter sido predito, fosse acreditado.
3 Esclareçamos agora as palavras da profecia para que, por não entendê-la, objetem o mesmo que nós dizemos contra os poetas, quando nos falam de Zeus que, para satisfazer sua paixão libidinosa, uniu-se com diversas mulheres.
4 Portanto, "Eis que uma virgem conceberá" significa que a concepção seria sem relação carnal, pois, se esta houvesse, ela não mais seria virgem; mas foi a força de Deus que veio sobre a virgem e a cobriu com a sua sombra e fez com que ela concebesse permanecendo virgem.
5 Foi assim que naquele tempo, o mensageiro, enviado da parte de Deus à mesma virgem, deu-lhe a boa notícia, dizendo: "Eis que conceberás do Espírito Santo em teu ventre e darás à luz um filho, que se chamará Filho do Altíssimo, e lhe porás o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo de seus pecados". Assim nos ensinaram os que consignaram todas as lembranças referentes ao nosso Salvador Jesus Cristo, e nós lhes demos fé, pois o Espírito Santo profético, como já indicamos, disse pelo citado Isaías que o geraria.
6 Portanto, por Espírito e força que procede de Deus não é licito entender a não ser o Verbo, que é o primogênito de Deus, como Moisés, profeta antes mencionado, o deu a entender. Vindo ele sobre a virgem e cobrindo-a com sua sombra, não por meio de relação carnal, mas por sua força, fez com que ela concebesse.
7 Quanto a Jesus, é nome da língua hebraica, que significa em grego Sotér, isto é, Salvador.
8 Daí que o mensageiro disse à virgem: "Tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo de seus pecados".
9 Que aqueles que profetizam não são inspirados por nenhum outro, mas pelo Verbo divino, suponho que mesmo vós o admitis.

Lugar de nascimento

34. 1 Escutai agora como Miquéias, outro profeta, predisse o lugar da terra em que ele nasceria. Assim diz: "E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre os príncipes de Judá, pois de ti sairá o chefe que apascentará o meu povo"mm.
2 Sabe-se que há no país dos judeus uma aldeia que dista de Jerusalém trinta e cinco estádios e que nela nasceu Jesus Cristo, como podeis comprovar pelas listas do recenseamento, feitas sob Quirino, que foi o vosso primeiro procurador na Judéia.

Várias profecias
35. 1 Também foi predito que Cristo, depois de nascer, viveria oculto aos outros homens, até à idade adulta. Escutai o que foi dito antecipadamente a esse respeito.
2 É o seguinte: "Um menino nasceu, um pequenino nos foi dado, cujo império está sobre os ombros"nn, aludindo essas palavras à força da cruz, à qual, ao ser crucificado, juntou os ombros, como a seqüência do discurso mostrará mais claramente.
3 E, de novo, o mesmo profeta Isaías, inspirado pelo Espírito profético, disse: "Eu estendi as minhas mãos para um povo que não crê e contradiz, aos que andam por um caminho que não é bom.
4 E agora me vêm pedir julgamento e têm a ousadia de aproximar-se de Deus".
5 E outra vez, por meio de outro profeta, diz com outras palavras: "Eles transpassaram meus pés e minhas mãos, e lançaram sorte sobre a minha roupa"pp.
6 Na verdade, Davi, rei e profeta, que disse isso, não sofreu nada disso, mas Jesus Cristo estendeu as suas mãos quando foi crucificado pelos judeus que o contradiziam e falavam que ele não era o Messias. Com efeito, como disse o profeta, levaram-no arrastando e, fazendo-o sentar-se numa cadeira de juiz, disseram-lhe: "julga-nos".
7 "Transpassaram as minhas mãos e os meus pés" significava os cravos que na cruz transpassaram seus pés e mãos.
8 E depois de crucificá-lo, aqueles que o crucificaram lançaram sorte sobre as suas roupas e as repartiram entre si.
9 Que tudo isso aconteceu assim, podeis comprová-lo pelas Atas redigidas no tempo de Pôncio Pilatos.
10Citamos também a profecia de outro profeta, Sofonias, que literalmente profetizou que ele montaria sobre um jumentinho e desse modo entraria em Jerusalém.
11São estas as suas palavras: "Alegra-te muito, filha de Sião; dá gritos, filha de Jerusalém. Eis que o teu rei vem a ti manso, montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho de um animal de jugo".

Regras de interpretação
36. 1 Percebamos que quando ouvis que os profetas falam como em própria pessoa, não deveis pensar que assim falam os próprios homens inspirados, mas é o Verbo divino que os move.
2 Algumas vezes ele fala como que anunciando de antemão o que vai acontecer, outras como se estivesse no lugar de Deus, Soberano e Pai do universo, outras na pessoa de Cristo, e outras ainda, das pessoas que respondem ao seu Pai e Senhor. Algo semelhante acontece com vossos próprios escritores, em que um é aquele que escreveu tudo, mas são várias as pessoas que entram no diálogo.
3 Não entendendo isso, os judeus, que são aqueles que possuem os livros dos profetas, não só não reconheceram a Cristo já vindo, mas também odeiam a nós, que dizemos que ele de fato veio, e mostramos que, como fora profetizado, foi por eles crucificado.

37. 1 Para que também isso fique claro para vós, eis aqui algumas palavras que foram ditas pelo profeta Isaías, antes mencionado, na pessoa do Pai: "O boi conhece o seu dono e o jumento a manjedoura de seu senhor; mas Israel não me conheceu e o meu povo não me entendeu.
2 Ai da nação pecadora, do povo cheio de pecados; descendência má, filhos iníquos: abandonastes o Senhor" .
3 De novo, em outra passagem em que o mesmo profeta fala igualmente na pessoa do Pai: "Que casa me edificareis? - diz o Senhor.
4 O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés"ss.
5 E outra vez, em outra passagem: "As vossas luas novas e os vossos sábados, a minha alma os detesta; o vosso dia de grande jejum e a vossa ociosidade, eu não os suporto. Nem mesmo quando vos apresentais diante de mim eu vos escutarei.
6 Vossas mãos estão cheias de sangue.
7 Até quando me trazeis flor de farinha ou incenso, isso é abominação para mim; não quero a gordura de carneiros ou sangue de novilhos.
8 Com efeito, quem pediu essas coisas de vossas mãos? Desata antes toda atadura de injustiça, rompe as cordas dos contratos injustos, cobre aquele que está nu e aquele que não tem teto, reparte o teu pão com o faminto" .
9 Portanto, com essas passagens podeis entender que tais são os ensinamentos que os profetas dão na pessoa de Deus.

38. 1 Quando o Espírito profético fala na pessoa de Cristo, ele se expressa assim: "Eu estendi as minhas mãos a um povo que não crê e contradiz, aos que andam por um caminho que não é bom".
2 E, novamente: "Entreguei minhas costas aos açoites e minhas faces às bofetadas, e não afastei o meu rosto da vergonha das cuspidas.
3 E o Senhor se tornou o meu auxílio; por isso eu não fui confundido, mas transformei o meu rosto em rocha dura, e soube que não seria confundido, pois está perto aquele que me justifica".
4 E o mesmo quando diz: "Eles lançaram sorte sobre as minhas roupas, e transpassaram as minhas mãos e os meus pés;
5 mas eu adormeci e me entreguei ao sono e ressuscitei, porque o Senhor me protegeu".
6 E outra vez quando diz: "Cochichavam com os seus lábios e balançaram a cabeça, dizendo: Salve-se a si mesmo.
7 Podeis comprovar que tudo isso cumpriu-se através dos judeus em Cristo.
8 Com efeito, estando já na cruz, eles retorciam os lábios e balançavam a cabeça, dizendo: "Quem ressuscitou mortos livre-se a si mesmo".

Profecia cumprida

39. 1 Quando o Espírito profético fala, profetizando sobre o futuro, ele diz assim: "Porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor de Jerusalém; ele julgará no meio das nações e argüirá um povo numeroso. Quebrarão suas espadas e farão arados, e transformarão suas lanças em foices; uma nação não pegará a espada contra outra nação, nem saberão mais o que é a guerra".
2 Que assim tenha acontecido, podeis comprová-lo.
3 Com efeito, de Jerusalém saíram doze homens pelo mundo, e estes ignorantes e incapazes de eloqüência; todavia, pela força de Deus, persuadiram todo o gênero humano de que haviam sido enviados por Cristo para ensinar a todos a palavra de Deus. Nós, que antes nos matávamos mutuamente, agora não só não fazemos guerra contra os nossos inimigos, mas também, por não mentir nem enganar os juízes que nos interrogam, morremos felizes de confessar a Cristo.
4 Pudéssemos nós aplicar ao nosso caso o dito: "A língua jurou, mas a alma não jurou".
5 Seria ridículo que os soldados que se contratam convosco e se alistam em vossas bandeiras pusessem a lealdade para convosco acima de sua própria vida, acima dos pais, pátria e tudo o que lhes pertence, embora nada de imperecível lhes pudésseis oferecer, e nós, que amamos a incorrupção, não suportemos tudo a troco de receber o que esperamos daquele que tem poder para no-lo dar.

Profecia sobre os apóstolos

40. 1 Escutai agora o que foi predito sobre os que pregaram a sua doutrina e anunciaram a sua vinda. O já mencionado profeta e rei diz assim por obra do Espírito profético: "O dia transmite a palavra a outro dia, e a noite anuncia o conhecimento a outra noite.
2 Não há discursos nem palavras, cuja voz não se ouça.
3 Sobre toda a terra se espalhou o som deles, e até aos confins do orbe da terra chegaram as suas palavras.
4 No sol colocou a sua tenda, e este, como esposo que sai do seu quarto, se regozijará como gigante para percorrer o seu caminho".
5 Além disso, acreditamos ser oportuno e apropriado ao nosso intento mencionar outras palavras profetizadas pelo mesmo Davi, através das quais podeis inteirar-vos de como o Espírito profético exorta os homens a viver
6 e como mostra a conspiração que Herodes, rei dos judeus, os próprios judeus, Pilatos, que foi vosso procurador na Judéia, e seus soldados tramaram juntos contra Cristo.
7 Notai também como se profetiza que pessoa de toda raça de homens deveriam crer nele, que Deus o chama de seu Filho e promete submeter-lhe todos os seus inimigos; ainda como os demônios, enquanto podem, procuram escapar do poder de Deus Pai e soberano de tudo e de Cristo; por fim, como Deus chama todos à penitência antes de chegar o dia do julgamento.
8 As profecias dizem o seguinte: "Bem-aventurado o homem que não anda no desígnio dos ímpios, não pára no caminho dos pecadores, nem se assenta no assento da perdição, mas se compraz na lei do Senhor e que dia e noite medita em sua lei.
 9 Será como árvore plantada junto às correntes das águas, que dará seu fruto no devido tempo e suas folhas não cairão, e em tudo o que fizer será bem sucedido.
10Não assim os ímpios, não assim, mas como o pó que o vento espalha sobre a face da terra. Por isso, os ímpios não se levantarão no dia do julgamento, nem os pecadores no conselho dos justos. De fato, o Senhor conhece o caminho dos justos e o caminho dos ímpios perecerá.
11Por que as nações fremiram e os povos meditaram novidades? Os reis da terra apresentaram-se e os príncipes se juntaram contra o Senhor e contra o seu Ungido, dizendo: ‘Rompamos suas amarras e arranquemos de nós o seu jugo'.
12Aquele que habita nos céus rir-se-á deles, e o Senhor os fará objeto de sua zombaria. Então, falar-lhes-á com ira e com sua indignação os perturbará.
13 Eu, porém, fui constituído por ele como rei sobre Sião, seu monte santo, para anunciar o seu decreto.
14O Senhor me disse: Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei.
15Pede-me e te darei as nações como tua herança e os confins da terra como tua propriedade. Apascenta-los-ás com cetro de ferro, como vaso de oleiro as farás em pedaços.
16E agora, reis, entendei; instruí-vos, vós que julgais a terra.
17Servi ao Senhor no temor, e no tremor regozijai-vos nele.
18Aprendei a disciplina; não aconteça que, em certo momento, o Senhor se irrite e pereçais saindo do caminho justo, quando de repente sua ira se acender.
19Felizes todos os que nele confiam."


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