sexta-feira, 26 de agosto de 2016

2º Estudo da OFSE - Biografia de Francisco de Assis Tomás de Celano - 1Celano 3-7

Biografia de Francisco de Assis 

Tomás de Celano

1Celano 3-7


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Capítulo 3 - Como, transformado interiormente, mas não exteriormente, falou alegoricamente de um tesouro encontrado e de uma noiva. 

6. 
1 Já mudado, mas só espiritual e não exteriormente, não quis mais ir para a Apúlia e procurou orientar sua vontade pela vontade de Deus. 
2 Por isso subtraiu-se aos poucos do bulício do mundo e dos negócios, querendo esconder Jesus Cristo em seu interior. 
3 Como um negociante prudente, escondeu aos olhos dos enganadores a pérola encontrada e, ocultamente, procurou vender tudo para poder adquiri-la. 
4 Tinha predileção por um jovem de Assis, porque era de sua idade e uma amizade plenamente compartilhada permitia contar-lhe seus segredos. Levava-o muitas vezes a lugares afastados e aptos para os seus planos, garantindo que tinha encontrado um tesouro precioso e enorme. 
5 Alegre e curioso e curioso pelo que ouvira, o amigo ia de boa vontade com ele todas as vezes que era chamado. 
6 Havia uma cripta perto da cidade, à qual iam com freqüência para falar do tesouro. 
7 O homem de Deus, já santificado pelo desejo de ser santo, entrava na cripta enquanto o companheiro ficava esperando do lado de fora e, tomado pelo novo e singular espírito, orava ao Pai na solidão. 
8 Esforçava-se para que ninguém soubesse o que fazia lá dentro, para que o segredo fosse causa de maior bem, e buscava só a Deus em seu santo propósito. 
9 Orava com devoção para que Deus eterno e verdadeiro dirigisse seu caminho e o ensinasse a cumprir sua vontade. 
10 Sustentava em sua alma uma luta violenta e não conseguia parar enquanto não realizasse o que tinha resolvido em seu coração. Pensamentos muito variados entrecruzavam-se nele, importunando-o e perturbando-o duramente. 
11 Ardia interiormente pela chama divina e não conseguia esconder o fervor de sua alma. Doía-lhe ter pecado tão gravemente e ofendido os olhos da majestade de Deus. As vaidades do passado ou do presente já não o agradavam, mas ainda não recebera plenamente a confiança de poder resistir-lhes

7. 
1 Certo dia, tendo invocado mais plenamente a misericórdia divina, o Senhor lhe mostrou o que tinha que fazer. 
2 Ficou tão cheio de alegria, que não cabia mais em si e, mesmo sem querer, deixou escapar alguma coisa aos ouvidos dos outros. 
3 Mas embora não pudesse calar-se por ser tão grande o amor que lhe fora inspirado, era com cautela que comunicava alguma coisa, e falando em parábolas. 
4 Assim como falara ao amigo íntimo de um tesouro escondido, como dissemos, aos outros procurava falar por analogias. Dizia que não queria ir para a Apúlia, mas prometia que haveria de fazer coisas nobres e estupendas em sua própria terra. 
5 Os outros acharam que ele ia se casar e perguntaram: “Você vai se casar, Francisco?” 
6 Respondeu-lhes: “Vou me casar com uma noiva nobre e bonita como vocês nunca viram, que ganha das outras em beleza e supera a todas em sabedoria”. 
7 De fato, a esposa imaculada do Senhor era a verdadeira religião, que ele abraçara, e o tesouro escondido era o reino dos céus, que buscou com tanto entusiasmo. 
8 Pois era necessário que se cumprisse plenamente a vocação evangélica naquele que haveria de ser ministro fiel e autêntico do Evangelho. 

Capítulo 4 - Como, tendo vendido tudo, desprezou o dinheiro recebido 
8. 
1 Quando chegou a hora estabelecida, o servo do Altíssimo, assim preparado e confirmado pelo Espírito Santo, seguiu o ímpeto sagrado do espírito, pelo qual se chega aos bens melhores, desprezando os que passam. 
2 De fato, nem podia esperar mais: uma doença mortal estendia por toda parte seus efeitos nefastos e paralisava tantas pessoas, que qualquer demora do médico podia ser fatal para elas. 
3 Levantou-se, armado do sinal da cruz e, tendo preparado um cavalo, montou e, levando consigo peças de escarlate para vender, partiu veloz para Foligno. 
4 Tendo lá vendido como de costume tudo que levara, o feliz mercador deixou até o cavalo que montara, depois de receber o preço que valia. De volta, livre da carga, vinha pensando com visão religiosa no que fazer com o dinheiro. 
5 Admirável e repentinamente todo convertido para as coisas de Deus, achou que era pesado demais carregar aquela soma por uma hora que fosse. Considerando simples areia todo aquele pagamento, apressou-se em se desfazer dela. 
6 Vindo na direção de Assis, encontrou à beira do caminho uma igreja erguida havia muito tempo em honra de São Damião e agora ameaçando ruína por sua muita antiguidade. 

9. 
1 Chegando a ela, o novo soldado de Cristo, comovido pela piedade de tão urgente necessidade, entrou cheio de temor e de reverência. 
2 Encontrando lá um sacerdote pobre, beijou suas mãos consagradas cheio de fé, deu-lhe o dinheiro que levava e contou direitinho o que queria. 
3 Espantado, e admirando tão incrível e repentina conversão, o padre não quis acreditar. 
4 Achando que estava sendo enganado, não aceitou o dinheiro oferecido: 
5 poderíamos dizer que o tinha visto, um dia antes, vivendo regaladamente entre parentes e conhecidos e mostrando mais loucura que os outros. 
6 Mas o jovem insistia teimosamente, e com palavras ardentes procurava convencer o sacerdote que, pelo amor de Deus, lhe permitisse viver em sua companhia. 
7 Afinal o padre concordou em que ficasse, mas, por medo de seus pais, não recebeu o dinheiro, que Francisco, verdadeiro desprezador de todas as riquezas, jogou a uma janela, tratando-o como se fosse pó. 
8 Pois desejava possuir a sabedoria que é melhor do que o ouro e adquirir a prudência que é mais preciosa do que a prata (Prov 16,16). 

Capítulo 5 - Como seu pai, perseguindo-o, o prendeu 
10. 
1 Enquanto o servo de Deus Altíssimo estava nesse lugar, seu pai, como um investigador aplicado buscava-o por todos os lados, querendo saber que fim levara o filho. 
2 Quando entendeu como ele estava vivendo naquele local, teve o coração ferido de íntima dor, e ficou muito perturbado com a súbita mudança. Convocou amigos e vizinhos e correu o mais depressa que pôde para onde morava o servo de Deus. 
3 Francisco, que era um atleta de Cristo ainda novato, sabendo das ameaças dos que o perseguiam e pressentindo sua chegada, não quis dar oportunidade à raiva e se meteu numa cova secreta que tinha preparado para isso. 
4 Esteve um mês nesse esconderijo, que ficava na casa e talvez só fosse conhecido por um amigo, mal ousando sair para as necessidades. 
5 Comia algum alimento, quando o recebia, no fundo da cova. Todo auxílio lhe era levado em segredo. 
6 Banhado em lágrimas, rezava continuamente para que Deus o livrasse da mão dos que o perseguiam e, por um favor benigno, lhe permitisse cumprir seus piedosos propósitos. Jejuando e chorando, implorava a clemência do Salvador e, desconfiando da própria capacidade, punha em Deus todo o seu pensamento. 
7 Mesmo dentro do buraco e na escuridão, gozava de uma alegria indizível, que nunca tinha experimentado. Cheio de ardor, saiu do esconderijo e se apresentou às injúrias dos que o perseguiam. 

11. 
1 Levantou-se sem vacilar, com alegria e presteza, ostentando o escudo da fé para combater pelo Senhor e munido com as armas de uma grande confiança. Tomou o caminho da cidade e, animado pelo entusiasmo divino, começou a acusar-se por sua demora e covardia. 
2 Vendo-o, todos os que o conheciam e confrontavam o presente com o passado passaram a insultá-lo miseravelmente, chamando-o de louco e demente, e lhe atiraram pedras e lama das praças. 
3 Viam-no completamente transformado em seus hábitos anteriores e muito acabado pela mortificação, e atribuíam seu comportamento à fraqueza e à loucura. 
4 Mas, como a paciência vale mais que a arrogância, o servo de Deus se fazia surdo a tudo isso e, sem se ofender ou abater, dava graças a Deus por todas as coisas. 
5 Pois é em vão que o iníquo persegue quem busca a honestidade: quanto mais for ultrajado, maior sua vitória. O coração generoso, disse um autor, torna-se mais forte com o desprezo. 

12. 
1 Mas o tumulto pelas praças e ruas da cidade durou tanto, ouvindo-se em toda parte o clamor dos que o insultavam, que, entre os muitos a cujos ouvidos chegou, estava também seu pai. 
2 Ouvindo o nome do filho, e que estava sendo comprometido nesse tipo de conversa por seus concidadãos, levantou-se imediatamente, não para libertá-lo mas para perdê-lo. 
3 Sem moderação alguma, partiu como um lobo para cima da ovelha e, olhando-o com truculência, arrastou-o com modos indignos e afrontosos para casa. 
4 Sem qualquer compaixão, prendeu-o por muitos dias em um lugar escuro e, querendo dobrá-lo para seu modo de ver, agiu primeiro com palavras e depois com chicotadas e algemas. 
5 Com isso tudo, o próprio Francisco ficou ainda mais pronto e decidido a seguir seu santo propósito, e sem se convencer com as palavras, nem se cansar da cadeia, não perdeu a paciência. 
6 Não são castigos e algemas que vão mudar a maneira correta de pensar e de agir, ou afastar do rebanho de Cristo aquele que aprendeu que deve se alegrar nas tribulações. 
7 Não treme diante de um dilúvio de muitas águas quem, na hora do aperto, se refugia no Filho de Deus, o qual, para que nossas tribulações não nos pareçam insuportáveis, sempre mostra que já passou por coisas piores. 

Capítulo 6 - Como sua mãe o soltou e como se despiu diante do bispo de Assis 
13. 
1 Aconteceu que seu pai precisou ausentar-se, pela urgência dos negócios, por algum tempo, deixando o homem de Deus preso no calabouço. A mãe, que ficou sozinha com ele em casa, e não aprovava o procedimento do marido, dirigiu-se ao filho com palavras ternas. 
2 Mas, vendo que não conseguia fazê-lo mudar de opinião, sentiu seu coração materno se enternecer e, soltando as correntes, deixou-o sair. 
3 Ele deu graças a Deus e voltou depressa para o lugar onde estivera antes. Provado pelas tentações, gozava agora de maior liberdade e, depois de tantas lutas, adquirira um ânimo mais sereno. 
4 As dificuldades lhe deram maior segurança, e começou a andar mais confiante e livre por toda parte. 
5 Nesse meio tempo, o pai estava de volta. Não o tendo encontrado, acumulando seus desatinos, armou uma gritaria com sua mulher. 
6 Depois, irado e ameaçador, correu em busca do filho, decidido a expulsá-lo da região, se não conseguisse traze-lo de volta. 
7 Mas, como o temor de Deus é o arrimo da confiança, logo que o filho da graça viu que seu pai carnal estava chegando, veio seguro, alegre e espontaneamente ao seu encontro, dizendo claramente que, para ele, cárceres e castigos não queriam dizer nada. 
8 Até garantiu que, por amor de Cristo, estava disposto a suportar com alegria todos os males. 

14. 
1 Vendo que não poderia afastá-lo do caminho em que se metera, o pai cuidou apenas de reaver o dinheiro. 
2 O homem de Deus teria querido gastá-lo e oferecê-lo todo para o sustento dos pobres e na construção daquele lugar mas, como não lhe tinha amor, não podia sofrer decepção alguma, nem se perturbou com a perda de um bem a que não tinha apego. 
3 Quando achou o dinheiro que ele, desprezador por excelência dos bens terrenos, ávido demais das riquezas celestes, tinha jogado a uma janela como lixo, acalmou-se um bocado o furor do pai irado. A recuperação foi como um refrigério para sua sede de avareza. 
4 Mais tarde, apresentou-o ao bispo da cidade, para que, renunciando em suas mãos à herança, devolvesse tudo que tinha. 
5 Ele não se recusou. Até se apressou alegremente a fazer o que pediam. 

15. 
1 Diante do bispo, não se demorou e nada o deteve: sem dizer nem esperar palavra, despiu e jogou suas roupas, devolvendo-as ao pai. 
2 Não guardou nem as calças: ficou completamente nu diante de todos. 
3 O bispo, compreendendo sua atitude e admirando muito seu fervor e constância, levantou-se prontamente e o acolheu em seus braços, envolvendo-o no manto. 
4 Compreendeu claramente que era uma disposição divina e percebeu que os gestos do homem de Deus, que estava presenciando, encerravam algum mistério. 
5 Tornou-se, desde então, seu protetor, animando-o, confortando-o e abraçando-o nas entranhas da caridade. 
6 É aqui que o nu luta com o adversário nu e, desprezando as coisas que são do mundo, aspira apenas à justiça de Deus. 
7 Foi assim que Francisco tratou de desprezar a própria vida, deixando de lado toda solicitude mundana, para encontrar como um pobre a paz no caminho que lhe fora aberto: só a parede da carne separava-o ainda da visão celeste. 

Capítulo 7 - Como, preso por ladrões, foi jogado na neve, e como serviu os leprosos 
16. 
1 Vestido de andrajos, ele que em outros tempos andara de escarlate, e cantando os louvores de Deus em francês através de um bosque, foi assaltado por ladrões. 
2 Perguntaram-lhe brutalmente quem era, e ele respondeu forte e confiante: “Sou um arauto do grande Rei! Que é que vocês têm com isso?” 
3 Bateram nele e o jogaram numa fossa cheia de neve, dizendo: “Fica aí, pobre arauto de Deus”. 
4 Quando se afastaram, revirou-se na fossa e conseguiu sair, sacudindo a neve. Com alegria redobrada, começou a cantar em voz alta pelos bosques os louvores do Criador de tudo. 
5 Chegando a um mosteiro, passou muitos dias na cozinha como servente, vestido apenas com uma túnica vil. Quisera saciar-se com um pouco de caldo. 
6 Mas ninguém teve pena dele e não conseguiu sequer alguma roupa velha. Saiu dali, não levado pela raiva mas pela necessidade, e foi para a cidade de Gúbio, onde conseguiu uma túnica com um de seus velhos amigos. 
7 Algum tempo depois, quando a fama do homem de Deus cresceu e o seu nome se espalhou no meio do povo, o prior daquele mosteiro, recordando e compreendendo o que fora feito contra o homem de Deus, procurou-o e pediu-lhe perdão por amor de Deus em seu nome e no dos monges. 

17. 
1 Depois disso, amante santo de toda humildade, transferiu-se para um leprosário. Vivia com os leprosos, servindo com a maior diligência a todos por amor de Deus. Lavava-lhes qualquer podridão dos corpos e limpava até o pus de suas chagas, como disse no Testamento: 
2 “Como estivesse ainda em pecado, parecia-me deveras insuportável olhar para leprosos, mas o Senhor me conduziu para o meio deles e eu tive misericórdia com eles”. 
3 Essa visão lhe era tão insuportável que, em suas próprias palavras, no tempo de sua vida mundana, tapava o nariz só de ver suas cabanas a duas milhas de distância. 4 Mas, eis que um dia, quando, por graça e força do Altíssimo, ainda vivia como secular mas já tinha começado a pensar nas coisas santas e úteis, encontrou-se com um leproso e, superando-se, chegou e o beijou. 
5 A partir de então, foi ficando cada dia mais humilde até chegar à perfeita vitória sobre si mesmo, por misericórdia do Redentor. 
6 Ajudava também os outros pobres, mesmo quando ainda era secular e seguia o espírito do mundo, estendendo sua mão misericordiosa para os que não tinham nada e mostrando compassivo afeto para com os aflitos. 
7 Houve um dia em que, contra seu costume, porque era muito bem educado, tratou mal um pobre que lhe pedia esmola. Mas logo, arrependido, começou a dizer consigo mesmo que era grande ofensa e vergonha negar a quem estivesse pedindo no nome de tão grande Rei, o que quisesse. 
8 Resolveu que jamais negaria a quem lhe pedisse em nome de Deus o que estivesse ao seu alcance. 
9 E o cumpriu com muita diligência, até oferecer totalmente a si mesmo, fazendo-se antes um cumpridor que um mestre do Evangelho: 
10 “Dá a quem te pede e não te desvies daquele que te pedir emprestado (cfr. Mt 5,42).”. 






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