quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Estudo 28 - Livro IV - Capítulos 17 a 18

28
História Eclesiástica de Eusébio de Cesaréia
Livro IV - Capítulos 17 a 18

Texto Bíblico: Salmo 23.6

XVII - Dos mártires mencionados por Justino em sua própria obra
XVIII - Que tratados de Justino chegaram a nós


 
 XVII - Dos mártires mencionados por Justino em sua própria obra
1. O mesmo autor, antes de seu próprio combate, menciona em sua primeira Apologia a outros mártires anteriores a ele. Também este relato é útil para nosso intento.
2.      Escreve assim: "Uma mulher vivia com seu dissoluto marido, e ela mesma havia-se dado anteriormente à vida dissoluta. Mas, depois que conheceu os ensinamen­tos de Cristo, aprendeu a conter-se e tratava de persuadir seu marido a tor­nar-se casto também, apresentando os ensinamentos e anunciando-lhe o castigo que no fogo eterno terão os que não vivem castamente e conforme a reta razão.
3.             Mas ele perseverava na mesma devassidão e com suas obras seguia afas­tando-se de sua esposa, pois a mulher, considerando ímpio seguir compar­tilhando o leito com um homem que buscava recursos de prazer por todos os meios, contra a lei da natureza e contra a justiça, quis divorciar-se.
4.             E como os seus lhe suplicaram e a aconselharam que aguardasse ainda, com a esperança de que o homem pudesse um dia mudar, fazendo uma violência contra si mesma, esperou.
5.             Mas depois que seu marido foi para Alexandria e ela teve notícia de que ali fazia coisas piores, para evitar compartilhar com ele as injustiças e impiedades permanecendo no matrimônio e compartilhando a mesa e o leito, deu-lhe o que entre vós se chama repudium e se separou.
6.             Mas o bom de seu marido, que deveria alegrar-se de que sua mulher, antes entregue à vida fácil com criados e diaristas, desfrutando de bebedeiras e todo tipo de maldades, não somente havia cessado com todas estas práticas, mas que também queria que ele deixasse de fazer o mesmo, porque havia se separado sem que ele o quisesse, vai e a acusa de ser cristã.
7.             E ela apresentou a ti, imperador, um libelo em que pedia, em primeiro lugar, que lhe fosse permitido dispor de seus bens, e depois, quando seus assun­tos estivessem arranjados, apresentar sua defesa frente à acusação. E tu o permitiste.
8.             Mas seu ex-marido, não podendo então dizer nada contra ela, voltou-se contra um tal Ptolomeu - a quem Urbicio havia imposto um castigo - porque havia sido mestre daquela nas doutrinas cristãs. Procedeu da seguinte maneira:
9.      Ao Centurião que havia aprisionado Ptolomeu, e que era seu amigo, persua­diu a que se apoderasse de Ptolomeu e lhe dirigisse esta única pergunta: se era cristão. E Ptolomeu, que amava a verdade e não tinha o caráter embusteiro nem mentiroso, confessou que era cristão. O Centurião fez com que o acorrentassem, e durante muito tempo submeteu-o a castigo no cárcere.
10.  E quando por último Ptolomeu foi conduzido à presença de Urbicio, também lhe perguntaram unicamente isto: se era cristão. E novamente, consciente do bem que havia recebido por meio da doutrina de Cristo, confessou a escola da divina virtude;
11.     porque quem nega algo, o que quer que seja, ou nega porque o condena, ou rejeita a confissão porque considera a si mesmo indigno e alheio a isto. Nenhum destes casos enquadra o verdadeiro cristão.
12.     E quando Urbicio mandou que o levassem à execução, um tal Lúcio, que também era cristão, vendo que a sentença era dada tão contra a razão, disse dirigindo-se a Urbicio: 'Qual é a causa de que tenhas condenado este homem sem haver provado que seja um adúltero, um fornicador, um homicida, um ladrão e sem que, em uma palavra, tenha cometido injustiça, mas somente porque confessou levar o nome de cristão? Tu, Urbicio, não julgas como corresponde ao imperador Pio nem ao filósofo que é o filho do César, nem tampouco ao senado sagrado.'
13.     E Urbicio, sem nada responder, disse dirigindo-se também a Lúcio: 'Parece-me que também tu és cristão.' E como Lúcio respondeu: "Assim é!", mandou que também a este levassem à execução. Lúcio declarou que estava agrade­cido, pois - acrescentava - afastava-se de uns amos tão malvados e ia para Deus, seu bom Pai e Rei. E a um terceiro que se apresentou foi infligida a mesma pena."
A isto Justino acrescentou, com razão e logicamente, as palavras que já citamos mais acima:
"E eu mesmo espero ser vítima da conspiração de algum dos nomea­dos, etc."

XVIII - Que tratados de Justino chegaram a nós
1.            Justino deixou-nos um grande número de obras, extremamente úteis, teste­munho de uma inteligência cultivada e empenhada nas coisas divinas. A elas remetemos os estudiosos, depois de assinalar propriamente as que che­garam a nosso conhecimento[1].
2.            Dele há primeiramente um tratado dirigido a Antonino, o chamado Pio, e a seus filhos, assim como ao senado romano, em favor de nossas doutrinas; e outro que contém uma segunda Apologia em defesa de nossa fé, que diri­giu ao sucessor e homônimo do citado imperador Antonino Vero[2], cuja época estamos registrando até o presente.
3.            Há também esta obra, o Discurso aos gregos, na qual, depois de esten­der-se largamente sobre os problemas apresentados a nós e aos filóso­fos gregos, discorre sobre a natureza dos demônios. Mas não é urgente citá-lo aqui.
4.             Também chegou a nós outra obra sua contra os gregos, que intitulou Refutação; e além destas, outra Sobre a monarquia de Deus, que compôs com elementos recolhidos não somente de nossas Escrituras, mas também dos livros dos gregos.
5.             Escreveu ainda o intitulado Psaltes e outro, de uso escolar, Sobre a alma, no qual propõe diversas questões sobre o problema que discute, e lista as opiniões dos filósofos gregos, prometendo contradizê-las e expor a sua própria em outro escrito.
6.             Compôs também um Diálogo contra os judeus, diálogo que sustentou na cidade de Éfeso com Trífon, o mais ilustre dos hebreus de então. Nele explica de que modo a graça divina o levou à doutrina da fé, com que empenho inicialmente se inclinava para as ciências filosóficas e que entusiasmo havia depositado na busca da verdade.
7.             Na mesma obra diz dos judeus que eles foram os que prepararam uma conspiração contra a doutrina de Cristo e expõe este pensamento dirigindo-se a Trífon:
"Não somente não vos haveis arrependido do mal que fizestes, mas até, tendo escolhido então alguns homens especialmente aptos, os enviastes desde Jerusalém a toda a terra dizendo que havia aparecido um seita atéia de cristãos e enumerando as mesmas calúnias que todos os que nos des­conhecem repetem contra nós, de modo que não somente sois culpados de vossa própria injustiça, mas também, simplesmente, da de todos os demais homens."
8.            Escreve também que inclusive até seu tempo seguiam brilhando os carismas proféticos na Igreja, e menciona o Apocalipse de João dizendo claramente que é do apóstolo. E cita igualmente alguns ditos de profetas, provando a Trífon que os judeus os eliminaram da Escritura. Conhecem-se ainda outros numerosos trabalhos seus, conservados entre muitos irmãos.
9.     E assim é que inclusive aos antigos pareceram do maior interesse os tratados de Justino, tanto que Irineu cita suas palavras. Efetivamente, no livro IV Contra as heresias diz textualmente:
"E muito bem disse Justino, em sua obra Contra Márcion, que não poderia crer nem no próprio Senhor se este lhe anunciasse outro Deus diferente do demiurgo."
E no livro V da mesma obra com estas palavras:
"E muito bem disse Justino que, antes da vinda do Senhor, nunca Satanás se atreveu a blasfemar contra Deus; como se ainda não soubesse de sua condenação."
10. Isto era obrigação dizer para animar os estudiosos a um trato aplicado e solícito para com as obras deste autor. Tais eram as notícias que a ele se referem.

1.                  O que mais te chamou a atenção neste texto?
2.                  O que o texto contribui para a sua espiritualidade?




[1] De todas, só chegaram a nós as chamadas Apologias I e II e o Diálogo com Trifon, ainda que com algumas lacunas.
[2] Marco Aurélio.

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